Caro Estranho,
Tive a coragem de sair de um casamento que me causava muito sofrimento, mas quando meu filho vai para a casa do pai, sinto uma solidão gigante. Tento conhecer novas pessoas, mas essa não é uma tarefa fácil. Por ser uma mulher com mais de 40 anos, há mais portas fechadas do que abertas por aí. Fora isso, tenho muito medo de ser rejeitada e, mais ainda, de me decepcionar. O que faço?
Grata por me ouvir,
Marta
Cara Marta,
Logo depois de fazer 40 anos, o Sr. Estranho me propôs aquela que seria uma grande mudança em nossas vidas. Sair do Brasil para morar na França. Houve, claro, uma ruptura importante com tudo aquilo a que estávamos acostumados. Algo que, talvez, se aproxime, de algum modo, do que você vivenciou ao decidir sair de um casamento que a fazia infeliz, minha cara. Aliás, quero lhe dar os parabéns pela coragem. Fiz essa associação meio torta, vamos dizer, pois existe certa expectativa em torno dessa idade. Não à toa, ouve-se muito por aí que “a vida começa aos 40”, não é?
Há um ponto na carta que você enviou, que me fez parar para pensar. A questão é que, de acordo com o que vivenciei ao lado do Sr. Estranho nos últimos anos, sou obrigado a discordar de você, quando afirma que, por conta dos 40, “há mais portas fechadas do que abertas”. Para ser claro, não acredito nisso e acho que essa é uma crença limitante que você traz consigo. Ou seja, uma certeza que não vai ajudá-la a crescer. Dito isso, para mim, o necessário agora é você se conhecer melhor como mulher. Não mais como esposa, nem como mãe. Aproveite esse tempo em que estiver sozinha para descobrir do que você gosta hoje, aquilo que lhe dá prazer, o novo.
Hoje, alguns anos após nos mudarmos, consigo ver com clareza que o Sr. Estranho é uma pessoa bem melhor. Foi um longo processo? Sim, sem dúvida. Houve momentos difíceis? Muitos. E creio que não tem sido diferente por aí, Marta. Seja por conta dos 40 ou não, chegou a hora de você se reconhecer, reinventar, enfim, coloque como quiser. Só peço que descubra quem é essa outra mulher, pois há uma vida inteira à espera dela. Com um mundo de possibilidades.
Um grande abraço,
Estranho