Uma amizade que já não basta

Caro Estranho,

Tenho 45 anos, sou gay e faz algum tempo que percebi que estou apaixonado pelo meu melhor amigo. Ele tem a mesma orientação que eu. Nós nos conhecemos desde a infância e possuímos todo um passado juntos. Porém, agora estou perdido. Não sei o que fazer e muito menos como.

Não falei nada para ele, pois tenho medo de magoá-lo e perder essa amizade tão forte e duradoura. No entanto, às vezes, acho que ele também sente algo por mim. Enfim, não faço ideia do que ele pensa. Por isso, gostaria muito de saber o que você tem a dizer e o que posso fazer neste momento.

Obrigado por me ouvir,

Olavo

Caro Olavo,

Certa vez, contei aqui que, no passado, também me apaixonei pelo meu melhor amigo de então. Contudo, pelo fato de ele ser hétero, naquela ocasião, a paixão não vingou. Por isso, apesar de saber como você se sente, no caso desta carta, a situação muda bastante. Na verdade, a orientação de vocês é o que menos importa agora. O fato é que todo mundo, gay ou não, está sujeito a passar por isso. E tenho certeza de que uma boa parte do público que me segue poderá ajudá-lo. Afinal, não é raro que uma história de amor comece a partir de uma amizade. Então, vamos ao que interessa.

Penso que a paixão por um amigo acontece quase como uma mágica, concorda comigo? Você está acostumado à presença daquela pessoa, nota que ela é uma boa companhia, começa a sentir algo diferente e, quando menos espera, tudo que você mais quer é estar ao lado dela o tempo todo e lhe oferecer o que tem de melhor. Não é assim que você se sente? No entanto, logo bate aquele medo. O de abrir o coração para ela e, com isso, estragar ou até mesmo perder a amizade. Por isso, é natural que você esteja perdido, meu caro. Não é tão simples assim tomar uma atitude neste caso.

Ainda assim, na minha opinião, você deve agir sobre esse sentimento, sim. Sabe por quê? Pelo fato de que você já não o vê apenas como um amigo. Porque, para você, ter só a amizade dele não é mais o bastante. Porque, enquanto não se abrir, você vai continuar angustiado. Enfim, porque ele merece saber também. Sobretudo, se existe a chance de essa paixão ser recíproca. Por isso, Olavo, não sofra mais calado. Não se arrependa por não ter tentado. Não há nada, neste mundo, que substitua uma conversa aberta e honesta. Sufocar o que se passa aí dentro não o levará a lugar nenhum.

Se você gostaria de ouvir o que tenho a lhe dizer, como me escreveu, está tudo aqui. Olhe com carinho, e não com medo, para essa paixão. Então, respire fundo, encha-se de coragem e fale com ele, meu caro. Conte como você se sente. Ouça-o também com atenção. Quanto à reação dele, não há como controlar. Mas acredito que, em nome de uma amizade tão longa, ele saberá lidar com isso. Você não acha? Enfim, por mais que eu tenha dado a minha opinião, em última instância, essa decisão só cabe a você. Por fim, só lhe peço um favor, pode ser? Volte aqui para me contar o que fez.

Um grande abraço,

Estranho