Parar tudo já não é uma opção

Caro Estranho,

No momento, encaro um divórcio consensual, mas estou frustrada por não ter sido capaz de manter o meu casamento. Tivemos dois filhos. Ou seja, além de ser mãe, tenho de ser magra, ter dinheiro e tudo mais. Estou muito cansada. Queria parar, mas tenho de ser forte e seguir em frente por eles. Só quero que alguém me pegue no colo e diga que tudo vai ficar bem.

Obrigada por existir,

Luísa

Cara Luísa,

Vou voltar no tempo, até as aulas de física da escola, e perguntar se você se lembra da lei da inércia. Calma, pois você deve se recordar de algum modo. De acordo com ela, se nenhuma força agir sobre um corpo em movimento, ele tende a continuar assim. Pode até não parecer, mas é isso que você tem vivenciado na prática. Sei que está cansada, mas por enquanto, você tem de se manter em estado de ação. Afinal, você tem um divórcio em andamento e, mais importante ainda, dois filhos, que dependem muito de você, para cuidar, educar e amar.

Sinto por ter de lembrá-la disso, Luísa. Porém, você não pode parar agora, como gostaria. A vida requer de nós não apenas coragem, mas também força. Sei que você é forte o bastante para ouvir isso e me entender. Pela carta, não consigo saber o quanto esse ex-marido pode ajudar com a casa e as crianças. No entanto, todos sabemos que, mesmo com um suporte, ser uma mãe sem cônjuge exige um trabalho absurdo. Fora isso, você está certa ao alegar que não pode descuidar de si. Tem de estar saudável, o que não quer dizer “ser magra”, além de prover e ser mulher. Por isso, o que posso lhe oferecer é a minha solidariedade.

Em meio a todos esses desafios, lembre-se de respirar, minha cara. Tente meditar, se houver alguma chance. Não sei se fui duro ao afirmar que parar está fora de cogitação, mas não vou mentir para você. Viva um dia de cada vez com calma. Sei que você vai conseguir dar conta do recado. Há de chegar a hora em que você vai olhar para trás e se orgulhar de tudo que fez. Agora sim, posso lhe oferecer este meu colo virtual e garantir que tudo vai ficar bem.

Um grande abraço,

Estranho