A dor de cada um não aparece

Caro Estranho,

Por que comparamos tanto o nosso fracasso com o sucesso dos outros? Por que o pet do meu vizinho é saudável, e o meu morreu tão cedo? Por que os pais dos meus amigos são cheios de energia, enquanto os meus vivem adoentados e deprimidos? Por que a vida dos outros têm grandes marcos, e a minha parece uma luta sem fim contra o sofrimento?

Um abraço fraterno,

Dedé

Cara Dedé,

A comparação é um tema tão recorrente neste projeto, que hoje vou tentar outra abordagem. Em 2020, sofri um acidente, no qual fraturei diversas vértebras. Só na cirurgia, a médica contou dez. Como resultado, ganhei uma dor crônica severa na coluna, à qual ainda tento me adaptar. É óbvio que ela me afeta muito e, por conta dela, não posso fazer qualquer atividade física, senão caminhar. E, mesmo assim, faço isso com dor. Esse fato trágico, pois é como o vejo, transformou toda a minha vida. Mas vou guardar o resto para debater na terapia.

Já aviso que não quero, com esse meu relato, angariar a pena de quem me lê ou me colocar como mais ferrado do que você, Dedé. O meu objetivo aqui é outro. Para começar, como ser humano que sou, também me comparo quando vejo alguém postar um treino ou uma maratona nas redes sociais. Contudo, isso só me faz sentir angústia e frustração. Não vale a pena. Por outro lado, e isso talvez seja o mais importante, quem me vê contente em uma foto, ou na rua com o meu cachorro, não imagina essa dor que sinto. Sabe por quê, minha cara? Porque a batalha de cada um, a tristeza, o sofrimento ou o “fracasso”, como você pôs, não são compartilhados.

Com um filtro, seja ele literal ou não, a vida do outro será sempre bem melhor do que a nossa. Então, o meu toque é que você tente ajustar o próprio olhar e imaginar a luta diária que cada um enfrenta, antes de abraçar como realidade tudo que está nas redes. Comparar-se é algo que faz parte da nossa humanidade, para responder à pergunta que você me fez. Agora, minha cara, faça o exercício que lhe propus e evite comprar essa verdade “filtrada” que nos vendem.

Um grande abraço,

Estranho