Não se preocupe tanto agora

Caro Estranho,

Sou mãe de um rapaz de 20 anos que, apesar de adulto, insiste em agir como um adolescente. Não trabalha, nem estuda. Não namora, nem sai para nada. Ele até ajuda com o trabalho de casa, mas queria mesmo que ele se animasse um pouco e seguisse com a própria vida. Na infância, ele era alegre, carismático e vivia cheio de amigos. Hoje, porém, me sinto péssima, pois ele mudou.

Obrigada por me ouvir,

Sandra

Cara Sandra,

Você me fez lembrar de parte da história do meu irmão. Lembro que, após se formar no colégio, ele ficou alguns anos sem saber o que fazer da vida. E isso gerou bastante incômodo em todo o entorno familiar. Então, aos 21 anos, ele voltou a estudar e tudo se acalmou. Para resumir bem, hoje ele atua como diretor de uma multinacional. Não quero, é claro, dizer que esse filho que você tanto ama deva, ou até mesmo queira, seguir esse mesmo caminho. Quero apenas acalmá-la um pouco, esclarecer que não há por que você se sentir péssima e reforçar o óbvio. Cada um tem um tempo diferente.

Hoje em dia, há um número cada vez maior de “pós-adolescentes”, vamos colocar assim, que ainda não saíram de casa, nem decidiram que rumo seguir na vida. Ao mesmo tempo, nunca houve tantas opções. Está tudo bem, Sandra. O único ponto que me fez parar para pensar, na carta que você mandou, foi a reclusão desse filho. Você me diz que ele “nem sai para nada” e queria que ele “se animasse”. Por isso, como sempre faço aqui, devo recomendar que ele busque algum tipo de ajuda especializada. Não se preocupe, pois não há nada de errado. Só acho que seria muito importante ele poder falar com alguém capaz de checar como anda a saúde mental dele. É apenas uma conversa aberta e honesta.

Digo isso, pois foi uma terapeuta que, certa vez, me ensinou a ideia de “conforto desconfortável”. E pode ser onde esse filho se encontra hoje. Ou seja, em um lugar protegido e agradável, mas que não o obriga a enfrentar o mundo lá fora. Contudo, com o tempo, esse mesmo local passa a se tornar ruim, pois nos impede de viver uma vida plena. Seja como for, até por ter me procurado, estou certo de que você foi e sempre será uma ótima mãe, Sandra. Não se culpe ou se preocupe, pois não é necessário.

Um grande abraço,

Estranho