Caro Estranho,
Descobri há pouco tempo que tenho câncer. E pior do que isso. Já está espalhado por alguns órgãos. Após um divórcio, tinha voltado a viver, sorrir, viajar e tudo mais. Enfim, estava de bem com a vida. Contudo, veio essa notícia que me devastou. Estou em um leito de hospital e não consigo evitar o temor do futuro, de tudo que devo sentir. Não sei como vou sobreviver.
Obrigada por me ouvir,
Renata
Cara Renata,
Há muito tempo, havia apenas duas estações. Eram o veris e o hiems. Este último era o que definia o “mau tempo” e deu origem à palavra inverno. Descobri que ele está ligado também ao verbo hibernar. Quer dizer, entrar em um estado no qual as nossas funções vitais ficam reduzidas somente ao que precisamos para sobreviver. Não sei quanto a você, mas vejo uma relação entre tudo isso e o que você me contou. É claro que sinto muito pelo que você tem passado, mas pense que é apenas uma estação. À qual você há de sobreviver.
Entendo que você se sinta devastada, como colocou. Não é para menos. Qualquer um se sentiria assim nesse lugar. Mas ao ler o que você me mandou, pensei na vida como uma sequência de ciclos. Logo após o divórcio, foi como se você tivesse vivido e aproveitado um período de bom tempo, mas o inverno voltou, minha cara. Então, é hora de você se recolher, “hibernar” e encarar essa doença como uma fase ruim que vai passar. Não há como dizer que será fácil ou que não vá doer. Contudo, você há de sobreviver, sim. Você quer saber como, não é mesmo? E só penso em um dia após o outro. Com calma e serenidade.
Quanto ao temor do futuro, é algo que todos temos, Renata. Inclusive, por sabermos que a vida é cíclica e tão incerta. Por ora, você deve manter a fé, caso a tenha, a coragem que já possui e a esperança de que a primavera vai chegar logo. Pois é fato que ela vem. Quando isso não for suficiente, procure alguém para conversar, como fez ao desabafar comigo. E trate, por favor, de fazer as pazes com a vida. Afinal, isso vai ajudá-la neste momento.
Um grande abraço,
Estranho