Uma amizade que amadureceu

Caro Estranho,

Estou com certa aversão ao meu melhor amigo. Por uma série de motivos. As decisões idiotas que ele toma e, depois, tenho de ajudá-lo. Uma sensação de ser ignorado, pois ele não escuta os meus conselhos. Ouvi-lo reclamar sempre do mesmo problema. Enfim, tenho perdido todo o prazer de estar com ele, mas ainda tenho um amor fraternal. Não sei como resolver isso.

Obrigado por me ouvir,

Diogo

Caro Diogo,

O meu melhor amigo sempre foi o oposto de mim. Gostava bastante de falar, mas pouco de ouvir. Toda vez que conversávamos, o assunto girava em torno dele. Para ser honesto, ele, às vezes, lembrava de perguntar como eu estava. Porém, bastava eu começar a responder para ele pegar o celular e fazer algo mais relevante do que me ouvir. Em qualquer evento ou festa que íamos, na adolescência, ele tinha de ser o centro das atenções. Caso isso não ocorresse, ele logo queria ir embora do lugar. Quando eu, de fato, queria falar, procurava outra pessoa.

Certa vez, ele pôs na cabeça que já era a hora dele casar. Ele arranjou uma namorada, avisei para ele que não ia dar certo e, em três meses, ele se casou. Foi também o tempo que durou toda a loucura. Logo, ele estava às voltas com um processo de divórcio. Por volta dessa fase, cheguei ao meu limite. Parei de ir tanto à casa dele e comecei a recusar convites. Aí, uns dois anos depois, saí de São Paulo e a relação com ele começou a melhorar. Vim para a França e, de repente, ele passou a ser um bom ouvinte. Não toca mais no celular quando falo de mim. Mora com outra mulher há anos e está muito bem. Enfim, parece que ele amadureceu.

Sei que esta não é uma resposta típica, mas o que quero lhe dizer, meu caro, é que entendo como você se sente neste momento. E que, se puder aguentar, você deve aceitar esse amigo como ele é, por enquanto. Se estiver bastante ruim, afaste-se um pouco. Mas desista de uma vez de mudá-lo, pois alguém só muda quando quer. Hoje, tenho muita saudade desse meu melhor amigo. Sempre senti o amor fraternal que você citou e vejo que tudo valeu a pena.

Um grande abraço,

Estranho