Caro Estranho,
Vivo há dois anos com uma mulher bastante agressiva e muito violenta. Ela já me atacou fisicamente três vezes e, em novembro passado, fiz o primeiro boletim de ocorrência contra ela. A última agressão foi tão perigosa, que tive de chamar a polícia para retirá-la da minha casa. Agora, estamos separados.
Ainda assim, mesmo com a razão, sempre fui eu que corri atrás dela. E já faz algum tempo que não consigo afastá-la do meu pensamento. Sinto muita falta dela, mas por outro lado, temo pela minha segurança e integridade física. Não sei como agir em relação a isso. É como se fosse uma droga.
Obrigado pela atenção,
Fábio
Caro Fábio,
De fato, uma relação abusiva é como uma droga. Você não poderia ter definido melhor. Ou seja, você a experimenta, torna-se dependente dela e, antes mesmo de se dar conta, quer aquilo cada vez mais. É isso que tem acontecido neste caso. Você está viciado nessa mulher, meu caro. Ou melhor, nessa dinâmica tóxica que ela lhe proporciona. E, no momento, não consegue encontrar uma saída para este problema. Você consegue perceber isso? Pois o primeiro passo é reconhecer o vício para, então, procurar ajuda. Que foi o que você fez ao me escrever. Portanto, vamos trabalhar.
Decidi responder esta carta, pois ela me chamou a atenção. Não apenas por se tratar de um tema nunca abordado neste espaço, mas também pela necessidade de trazê-lo à tona. Após fazer uma pesquisa, o que notei foi que, ao contrário do que acontece com a mulher, o homem vítima de violência doméstica não é incentivado a denunciar o abuso. Então, considero importante você ter registrado um boletim de ocorrência contra ela, Fábio. E sinto muito pela situação ter chegado a esse ponto. Entretanto, isso ainda não será o bastante para resolver o problema que você me trouxe aqui.
Assim como acontece com qualquer outro vício, para se curar de verdade, você terá de ser forte e encerrar de uma vez essa dinâmica tóxica e abusiva. Assim, não vejo outra saída que não seja se afastar o quanto antes dessa mulher, meu caro. Cortar todo e qualquer contato. Não procurá-la mais. Até porque essa relação que você vive hoje não se traduz em amor, mas em dependência. Para entender melhor o que quero dizer, você deve também procurar uma ajuda especializada. Não por estar errado, entenda bem, e sim porque o trabalho que você terá de fazer é, sobretudo, interno.
Estou certo de que a ideia de terminar esse relacionamento de dois anos lhe causa medo e angústia agora. Contudo, tenha em mente que ela não mudará de comportamento. Então, cabe a você cuidar não apenas da própria integridade física, mas também da saúde psicológica. Com o tempo e no caminho certo, você entenderá que merece muito mais do que uma relação baseada em agressividade e violência. No amor, não há espaço para isso, Fábio. E tenho fé de que você o encontrará em outra pessoa. Antes, porém, você deve trabalhar para, enfim, libertar-se dessa droga.
Um grande abraço,
Estranho