Mantenha uma certa distância

Caro Estranho,

No início deste ano, sofri um violento ataque homofóbico da minha irmã, que quase resultou em uma agressão física. Então, decidi me afastar de uma vez dela e me sinto muito melhor por isso. Já com a minha mãe, que também não aceita a minha orientação, tento manter o mínimo de contato.

De vez em quando, penso se não poderia fazer mais, mas a questão é que me sinto bem assim. Sei que preciso fazer terapia. Porém, o que você poderia me dizer? Será que sou egoísta por só querer essa irmã distante? E quanto à minha mãe? Sou um péssimo filho por prezar pela minha própria liberdade?

Obrigado por tudo que faz,

Jean

Caro Jean,

Você não é um péssimo filho e muito menos um irmão egoísta. Desde já, peço que desista de pensar assim. O que aconteceu foi que você escolheu abandonar um ambiente tóxico por uma questão de autopreservação. Ou seja, para proteger a própria saúde física e, sobretudo, psicológica. E fez bem, pois continuar naquele lugar não lhe traria nada de bom, pelo menos, neste momento. Portanto, não há nada de errado com você, meu caro. Apesar de pensar se não poderia fazer mais, como você me escreveu, estou certo de que você deu todo amor que podia, mas a recíproca não foi verdadeira.

Como gay que também sou, posso dizer que o meu momento de maior libertação ocorreu quando me dei conta de que não preciso da aprovação de ninguém para ser eu mesmo. É claro que é mais fácil quando você tem uma família que o apoia, mas não é o que acontece com você, Jean. E sinto muito por isso. Essa irmã que o atacou, além de preconceituosa, é intolerante. Ela poderia aceitá-lo, mas não quer fazê-lo. Ela impõe uma condição para isso. Que você deixe de ser quem é. Já essa mãe parece fazer algum esforço, mas ainda não chegou lá também. Contudo, o amor requer a aceitação.

Diante de toda essa situação, é natural que você se sinta bem ao optar por se manter afastado tanto de uma quanto da outra. Não se cobre só por isso. Você está certo ao prezar pela própria liberdade, mas também tem razão ao me dizer que precisa procurar uma terapia. Não porque haja algo de errado com você, como eu já disse, e sim para que entenda melhor essa dinâmica familiar e aceite o que não pode ser mudado. Afinal, nenhuma família é perfeita. Faça esse trabalho, antes de tudo, por você. Não espere encontrar uma resposta pronta, mas aprenda a se questionar quando preciso.

De volta à carta que você me mandou, aceite que você tem uma orientação com a qual essa irmã homofóbica não concorda. E quer saber? Seja feliz mesmo assim. Distante dela, mas seguro consigo. É a melhor lição que você pode ensinar-lhe. O que eu disse vale também para essa mãe que ainda não o aceita por completo. E talvez nunca consiga fazê-lo. Sei que não é a situação ideal, mas é possível continuar em frente. Ninguém muda se não quiser, Jean. Tudo que você pode fazer é seguir adiante e deixar a porta aberta. Quem sabe um dia alguém o procure e queira saber quem você realmente é?

Um grande abraço,

Estranho