A dura busca pelo autoperdão

Caro Estranho,

A minha mãe faleceu há cerca de nove meses por conta de um câncer. Porém, o que acabou com ela foi a morte do meu irmão de 40 anos, pelo mesmo motivo. O problema que tenho enfrentado nem é tanto a dor do luto. A questão é que, até o começo da doença dela, antes mesmo de sabermos o que era, eu lhe dizia algumas palavras muito duras. “Você sempre aceita tudo”, falava. “Você só virá morar comigo em último caso.” Enfim, ela veio. Fiz de tudo para ela reagir, levantar da cama, não usar a fralda, mas ela não queria se cuidar. Então, foi morar com a minha irmã, começou a piorar e morreu após ficar um mês lá. Sinto que não fiz tudo que deveria, nem com todo o amor necessário. Tem sido difícil me perdoar.

Obrigada por me ouvir,

Joana

Cara Joana,

“Hoje vou levantar e dar o pior de mim.” Sabe quem pensa isso ao acordar? Com toda certeza, ninguém. Então, antes de tudo, quero lhe dizer que sinto muito pelas perdas que você sofreu. Não posso imaginar a dor. Mas devo lembrá-la ainda que, como todos nós, você fez o melhor que pôde, dada a situação dessa mãe. Você tem de acreditar nisso, minha cara. Assim, peço que olhe para esse passado com mais generosidade. Sem esquecer que todos somos imperfeitos e erramos. Ficar presa a algo que você disse a ela não vai lhe trazer benefício nenhum.

É impressionante o número de mensagens que recebo e tratam desse mesmo tema. A culpa e a busca pelo perdão. E vou ainda mais longe, pois chego ao seguinte ponto. O perdão mais difícil de conceder é o autoperdão. De outra maneira, quero destacar que somos muito mais exigentes conosco do que com os outros. Porém, Joana, nós também erramos e está tudo bem. Mas se não nos perdoamos, não evoluímos. Além do quê, perdoar é uma chance de se autoconhecer. Por isso tudo, sugiro a você que deixe de lado a vaidade de achar que não pode cometer erros. Não tenho dúvida de que você fez de tudo para ser uma boa filha. Leve isso com você.

Você precisa entender que é digna de estar aqui, independente do que possa ter feito no passado. Entendo a angústia que você deve sentir por não poder se desculpar com essa mãe. Porém, se isso não é possível, guarde o aprendizado e liberte-se. Perdoe-se para seguir em frente e mudar a forma de lidar com os inevitáveis erros. Por fim, minha cara, escolha focar no lado positivo do que vocês viveram. Mais uma vez, repito que você deu a ela o melhor que pôde. E isso foi o bastante.

Um grande abraço,

Estranho