A procura por um novo sentido

Caro Estranho,

Encontrei você por acaso, em outro dia à procura de nada aqui no celular. Li algumas das várias cartas que lhe foram enviadas e me identifiquei com uma ou outra. O meu ponto é que me sinto muito perdida. Não sei ainda o que gostaria de ser. Como ser só eu mesma não basta, decidi que quero ser professora. Talvez, ensinar possa ser a saída para a minha existência vazia.

Um abraço,

Manu

Cara Manu,

Antes mesmo de começar aqui, peço-lhe que compreenda e guarde consigo a seguinte frase. Você não é o que você faz. E nunca será. O que sei sobre você é muito pouco. Mas acredito que seja uma mulher nova, em um dilema comum que, no fundo, não tem uma idade certa para acontecer. A busca por um sentido. Por isso, quero dizer que entendo como você se sente, pois estive nesse mesmo lugar há alguns anos. Conheço bastante a angústia de se sentir sem rumo ou de achar que tenho uma “existência vazia”. E sinto por você, mas isso vai passar.

De volta à frase do começo desta carta, quero acrescentar que você também é o que você faz, mas nunca só isso. Dá para notar a diferença? Desta forma, quero dizer que se tornar uma professora pode, sim, lhe dar um novo sentido agora. Por que não? No entanto, isso seria algo emprestado, por assim dizer. Pois o verdadeiro propósito da vida está dentro de você. Ou seja, não é uma profissão, um casamento ou mesmo um filho que vão completá-la, Manu. Só você mesma vai poder preencher o vazio que sente hoje. E, para isso, você ainda vai se conhecer e experimentar bastante. Se o caminho for dar aulas, vá em frente e confie neste processo.

Com tudo isso, quero lhe dizer que descobri o sentido da vida? De forma alguma. Bem como você, sigo nesta busca e, para ser honesto, não acho que terei essa resposta tão clara em algum momento. No entanto, quero deixar aqui uma frase que me conforta muito, do filósofo Alan Watts. “O sentido da vida é estar vivo”, afirma ele. E você está, Manu. Então, experimente o quanto puder. Seja o que quiser. Ser “só” você mesma é o bastante, sim. Fique sossegada.

Um grande abraço,

Estranho