Ainda não é hora de descansar

Caro Estranho,

Já tenho 71 anos, dois filhos, um neto e moro só. Tenho medo da solidão e, ao mesmo tempo, não quero dar trabalho para eles. Tem dias difíceis, em particular, os finais de semana. Gostaria de encontrar alguém para dividir a vida, mas não me sinto capaz de atrair um companheiro. Você pode me dar algum conselho? O que devo fazer para aproveitar melhor a vida?

Um abraço,

Rosa

Cara Rosa,

Como o tempo passa rápido, não é? Digo isso, pois me chamou a atenção você ter começado a carta que me mandou com o curto advérbio já. Você nem notou isso, certo? Enfim, minha cara, apesar de ser mais novo, tento me colocar nesse lugar em que você está. Ao contrário de uma jovem, você hoje dispõe de experiência e algum tempo livre, mas talvez lhe falte aquela energia e disposição da juventude. Ouso dizer que, de uma forma dura e implacável, a própria vida nos mostra que cada fase possui um ritmo próprio. Então, sou capaz de compreendê-la.

Quanto à família que você construiu e essa solidão que compartilha comigo. Entendo que não queira “dar trabalho” para eles. Mas você alguma vez tentou ter uma conversa honesta, porém sem cobranças, com esses filhos? Ou seja, dizer como se sente, mas sem jogar sobre eles o peso de solucionar esse fato de você se sentir só? Se nunca o fez, tente fazer. Sei que não é uma manobra fácil. Contudo, é possível. Tenha a certeza de que, apesar de eles estarem ocupados com as próprias vidas, você tem um lugar único no coração e na mente deles. Só esqueci que, antes mesmo disso, tenho um conselho ainda mais importante. Ocupe-se, Rosa.

Cuide de você, do próprio bem-estar, faça uma atividade física, leia livros, veja filmes ou séries, busque uma terapia, procure um curso que lhe interesse. Enfim, faça o que puder. Esteja aberta. Com isso, você terá mais assuntos para falar com a família, uma vida bem mais plena e, o que mais importa, vai se sentir melhor consigo mesma. Quanto a achar um companheiro, não foque nisso agora. Sim, você já tem 71 anos, mas ainda não é hora de descansar, minha cara.

Um grande abraço,

Estranho