Caro Estranho,
Sempre me achei um pouco estranho. Depois da Covid, perdi muito a memória e fui buscar um porquê. Foi como descobri o TDAH. Agora, entendo o meu atraso profissional e também financeiro. Fico envergonhado, pois me sinto defasado. No entanto, estou certo de que vou melhorar e ter uma vida comum. Quero muito recuperar todo esse tempo perdido.
Obrigado pelo espaço,
Bruno
Caro Bruno,
Esta não é uma carta só sobre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, ou TDAH, como você colocou. Apesar de estar casado há 15 anos com alguém que também obteve esse diagnóstico, não sou um especialista. De tudo que aprendi, e ainda para situar quem nos lê, trata-se de uma condição genética, que causa sintomas como a falta de foco, a inquietação e até a impulsividade. E sim, isso tem muito a ver esse suposto “atraso” que você menciona, mas há tratamento, com medicação e terapia, e fico contente que você tem ido atrás dele.
Não quero aqui minimizar a questão que você me trouxe, Bruno. Sei que você sofre por conta disso e que esse sofrimento é genuíno. Por isso, ofereço aqui toda a minha empatia e digo ainda que não há por que você ter vergonha de nada. Contudo, o que me chamou a atenção na carta não foi tanto o diagnóstico, mas essa sensação de tempo perdido. Em um mundo tão rápido quanto o nosso, em que a competição e, mais ainda, a comparação são tão incentivadas, fico impressionado com a quantidade de pessoas que se sentem defasadas, como você. O que parece é que perdemos a noção de que cada um possui uma trajetória própria.
Então, Bruno, se for para dar um conselho, e não só a você, só gostaria de dizer que todos temos de ter calma e olhar mais para dentro. Entender que só existe o agora para se viver. Aquele tempo passou e não foi perdido, mas necessário, naquele exato momento. E ponto. Quanto ao caso que você trouxe, está tudo certo e sob controle. O importante é aceitar esse diagnóstico, seguir com o tratamento e manter o otimismo. Continue firme.
Um grande abraço,
Estranho