Só não pense em parar de vez

Caro Estranho,

Tenho 61 anos e sinto que não sirvo para mais nada. Tinha um brechó na minha casa, mas fui obrigada a me mudar para um apartamento e não posso alugar um espaço. Estou bem triste, pois gosto de sair, fazer compras e não tenho mais como. Enquanto isso, estou aqui, pronta para trabalhar. Porém, ninguém dá emprego para gente velha. O que posso fazer?

Obrigada,

Lucy

Cara Lucy,

Em uma rápida pesquisa no Google, descobri um fato que acho importante adicionar a esta resposta. Você sabia que a população brasileira tem envelhecido em um ritmo duas vezes mais rápido do que o da média do mundo? Segundo o IBGE, cerca de 15% do país têm 60 anos ou mais, como você. E não se trata aqui de “gente velha”. Sugiro, inclusive, que você não use essa expressão, pois ela é fruto de um preconceito enraizado em você, o chamado etarismo, que não vai ajudá-la a se sentir melhor. Pode ser? Agora sim, vamos retomar a conversa.

O mundo mudou bastante, Lucy. E temos de fazer um esforço coletivo para entender isso e poder fazer algo. Hoje, uma pessoa idosa não pode se dar por vencida e parar de vez. Sim, o mercado, de fato, ainda não se adaptou a este cenário. Contudo, isso renderia outra carta. O importante é você estar aberta para aprender, estudar e encarar o novo. “Estou aqui, pronta para trabalhar”, você me diz. Logo pensei em como seria se você tentasse criar um brechó virtual. Por que não? É apenas uma de várias ideias possíveis. Enfim, você tem experiência, conhecimento e vontade. Tudo que você não pode fazer agora é desistir e parar.

Sem dúvida alguma, também sou defensor do direito ao descanso, mas nem quem opta por ele pode parar. Pois o movimento, tanto físico quanto mental, é necessário para se viver com qualidade. Além disso, apesar de oficialmente idosa, você me parece estar cheia de energia. Então, aproveite tudo isso. Na minha rápida pesquisa, vi a seguinte frase. “Velho é quem perdeu a capacidade de sonhar.” Não sei de quem é, mas encerro a carta com ela.

Um grande abraço,

Estranho