Uma nova chance para o amor

Caro Estranho,

Há seis anos, o meu filho partiu. Sinto que nunca vou superar essa dor. Porém, não é esse o motivo do meu desabafo agora. A questão é que, apesar de ter vivido o luto ao lado do meu marido, hoje amo também outra pessoa, com a qual sinto que posso refazer a minha história e voltar a ser feliz.

Com ele, me sinto uma adolescente. Por favor, não pense mal de mim. Nunca traí o meu marido. Por enquanto, sou apenas amiga do outro, mas a nossa conexão é muito forte e ele corresponde ao meu sentimento. Fico quase tão feliz quanto era quando o meu filho estava vivo. E começo a pensar.

Dedico-me há 20 anos à minha família. No entanto, às vezes, acho que deveria ser um pouco egoísta e me colocar em primeiro lugar, ao menos uma vez. Sou nova e tenho tempo para recomeçar, mas também não posso, nem quero, fazer o meu marido sofrer. O que você acha que devo fazer?

Obrigada,

Vanessa

Cara Vanessa,

Não consigo imaginar dor maior do que a de perder um filho. Portanto, sinto muito pelo que lhe aconteceu. Tenho certeza de que você o amou muito e, de certa forma, ainda ama. Por outro lado, confesso que gosto de verbos como refazer e recomeçar. Eles são carregados de esperança e ambos estão presentes na carta que você me mandou. Quero dizer também que, mesmo que você tivesse traído quem quer que seja, jamais pensaria mal de você. Vale sempre lembrar que não estou aqui para julgar ninguém. E somos todos seres humanos. Dito isso, sigamos em frente.

“Hoje amo também outra pessoa.” Foi o que você me contou no primeiro parágrafo da carta. Ou seja, há o marido e o outro. E você diz amar ambos. No entanto, isso me chamou a atenção. Sabe por quê? Por favor, peço que tente me compreender, minha cara. Mas acho que o que você sente pelo outro ainda não pode ser considerado amor, consegue entender? Você está apaixonada. E não apenas por ele, mas pela ideia de “voltar a ser feliz”, como você colocou. Contudo, veja bem. Na minha opinião, essa paixão é uma ótima prova de que, mesmo após a dor do luto, você segue viva.

Agora, o que eu acho que você deve fazer? Para mim, você já tem uma resposta. Antes de tudo, saiba que se colocar em primeiro lugar nem sempre é egoísmo. Se você acredita nessa nova paixão, sente-se feliz com essa pessoa e é correspondida, não vejo por que não tentar investir nela, Vanessa. Porém, não é tão simples. Você tem um compromisso com esse marido e ele precisa saber o que se passa. Portanto, o meu único conselho é que você converse com ele. Sei que você não quer fazê-lo sofrer, mas não há como controlar isso. E você não deve ficar com ele só por pena.

Como falei no começo desta carta, assim como eu, você é um ser humano. Alguém que, mesmo sem querer, machuca e faz o outro sofrer. Não há como escapar disso. Você e esse marido passaram por um processo doloroso demais. É natural que você esteja confusa. Não sei quanto a ele, mas você se abriu para o mundo de novo e encontrou aquela que pode ser uma nova chance de recomeçar. Há algo na carta que você me escreveu, que me aponta que é isso que você quer. Você merece ser feliz, minha cara. E ele também. Por isso, fale com ele e volte para me contar.

Um grande abraço,

Estranho