Caro Estranho,
Vou reduzir ao máximo a minha história. Sou casada há mais de 40 anos e tenho dois filhos ótimos, que são tudo que restou de um casamento tão tóxico. Na verdade, fui conhecer realmente o meu marido, depois que nos aposentamos. Ele é uma pessoa complicada, ignorante, nociva e insuportável.
Nunca o abandonei por não ter como arcar com um aluguel. Além disso, hoje ele se encontra doente e sem condição de viver sozinho. Porém, o comportamento dele não muda. Os meus filhos já saíram de casa e, por eles, eu deveria largar o pai. O que você acha que posso fazer? Peço uma ajuda.
Obrigada,
Mazé
Cara Mazé,
Antes de tudo, sinto muito que você tenha concluído, após mais de 40 anos, que vive em um casamento tão tóxico, como você colocou. Deve ser algo muito frustrante. Confesso que a forma como você descreveu esse marido me deixou impressionado e até mesmo triste por você. Acredito que, após a saída dos filhos e a aposentadoria, você foi obrigada a conviver mais com ele e passou a enxergá-lo de outra maneira, certo? No entanto, não gostou do que viu. Também suponho que já não exista amor nessa relação, não é? Portanto, temos de pensar no que você pode fazer.
Ao ler a carta que me mandou, torna-se claro que você se sente infeliz e frustrada no ambiente em que vive. Sem falar na mágoa e na raiva que você deixa transparecer. Arrisco dizer ainda que o casamento em si já tenha chegado ao fim. Por tudo isso, também acho que a melhor solução seja você sair dessa casa, minha cara. Porque você ainda tem uma vida toda pela frente e precisa de alguma sanidade mental para desfrutá-la, concorda? Porém, esse é um passo grande e deve ser calculado com calma e cuidado. Afinal, ainda temos uma questão para resolver.
Penso que abandonar seja uma palavra muito forte, Mazé. Sobretudo, porque a realidade é que esse marido está doente e sem condição de viver sozinho. Na minha opinião, que não é a única ou a mais acertada, você pode se separar dele, sem perdê-lo de vista, por assim dizer. Para isso, talvez seja preciso que você peça ajuda aos filhos que tanto ama, e querem vê-la bem e feliz. Enfim, seria um esforço conjunto, em nome das mais de quatro décadas de casamento, que também não podem ser descartadas. Não sei se isso seria possível, como sugiro aqui.
Por fim, já me estendi muito e não estou certo de que consegui ajudá-la. O importante é que você fique bem e consiga, de alguma forma, se afastar desse ambiente que julga tão tóxico. Acrescento ainda que, se você acredita que vive sob alguma situação de violência psicológica, está aí mais um motivo para que você saia de casa. E faça isso sem culpa. De qualquer forma, tenho certeza de que tudo vai melhorar. Só o fato de você ter me procurado já indica um movimento. Desejo a você nada menos que uma vida plena, e que você fique em paz.
Um grande abraço,
Estranho