Caro Estranho,
Desde criança, adoro ajudar o próximo e sempre dou o meu melhor. Hoje, tenho uma filha adolescente e um marido que sofrem de ansiedade e depressão. Ambos se tratam e eu acompanho tudo. Porém, o problema é que, de vez em quando, me sinto muito exausta.
Enfim, eles estão sempre tristes, lamentam-se o tempo todo e têm um olhar negativo. Percebo que, de alguma forma, sou o porto seguro deles e ambos dizem que, sem mim, já teriam morrido. Tudo isso me deixa bem cansada. Como ajudá-los sem me sobrecarregar?
Obrigada por me ouvir,
Andréa
Cara Andréa,
Ao ler a carta que você me mandou, logo pensei no quão difícil deve ter sido para você escrevê-la, não é mesmo? Afinal, o problema em questão aqui envolve quem você mais ama. Por isso, devo parabenizá-la por esse pedido de socorro. Quando se trata de ansiedade e depressão, posso dizer que já tentei ajudar mais de um ente querido, mas também precisei da ajuda deles. E estar em qualquer uma dessas posições não é fácil. Por esse motivo, entendo como você se sente, minha cara. E não há nada de errado com isso. Portanto, livre-se de qualquer culpa, antes de começarmos, fechado?
Ser o porto seguro de alguém com qualquer transtorno afetivo requer que você se informe sobre a doença, ouça com atenção, incentive o tratamento, tente não julgar, dê apoio e suporte e, por fim, faça tudo isso sem esquecer da empatia. Sem falar que você ainda deve ter de trabalhar, ser mãe e mulher, cuidar da casa e assim por diante. Ou seja, você consegue perceber por que motivo se sente assim, tão exausta e sobrecarregada, Andréa? Para mim, isso é óbvio. Entendo que você adore ajudar o próximo, como escreveu na carta, mas tenho algo muito importante para lhe dizer.
Sabe qual é a melhor forma de você apoiar essa filha e esse marido sem se sobrecarregar tanto? É você mesma procurar ajuda, minha cara. Assim como fez aqui comigo. Porém, posso lhe responder quantas vezes você quiser, mas isso não será o suficiente. Você precisa agora de um suporte profissional, concorda? Em meio a todo esse cenário em que vive, está claro que você esqueceu de si mesma, minha cara. Você também tem muito a dizer, pôr para fora, e precisa ser ouvida. Antes de ajudar quem tanto ama, você precisa se cuidar e estar pronta. Enfim, acho que você entendeu o recado, certo?
Se ainda não ficou claro, aqui vai mais uma vez. Procure por ajuda para poder ajudar, Andréa. Além do apoio especializado, que se faz necessário e lhe fará muito bem, você também pode buscar alguém que vá ouvi-la sem julgar. Não tenha medo de contar como você se sente. Se preferir, há até mesmo grupos de apoio para familiares de quem sofre de ansiedade e depressão. Por fim, também pretendo contar com quem me acompanha aqui para fortalecê-la nessa empreitada. Não se culpe por estar muito cansada. Tenho certeza de que você é uma excelente mãe e uma ótima mulher.
Um grande abraço,
Estranho
