Caro Estranho,
Tenho 45 anos, um emprego estável e que paga bem. Mas por conta dele, fui transferido para longe da minha cidade, família, amigos e da mulher que amo. Por causa da distância, ela começou outra relação. Agora, me sinto cada vez mais solitário. É um misto de angústia, tristeza e dor. Não posso voltar para a minha cidade e, no trabalho, os colegas são distantes.
Obrigado,
Zeca
Caro Zeca,
Por ser um imigrante, talvez eu possa acessar, em parte, esse lugar incômodo em que você se encontra agora. Sim, estar longe de tudo que conhecíamos e das pessoas que ainda amamos é, sem dúvida, o maior desafio de quem, por algum motivo, decidiu se mudar. Então, antes de tudo, receba o meu abraço. Agora, só peço que me responda. Na carta que me mandou, você diz apenas “fui transferido”. Então, me pergunto. Você não teve a opção de aceitar ou não essa proposta? Se teve, seria importante pensar mais sobre o que o motivou, certo?
Não quero aqui que você se sinta “culpado”, meu caro. Sei como é. Decerto, você pensou em ter uma vida melhor aí, e ela pode existir, acredite. Contudo, a adaptação leva algum tempo e demanda certo esforço. De sair por aí, tentar se integrar, arrumar uma atividade fora do trabalho, enfim. A experiência tem tudo para dar certo. Você pode, até mesmo, conhecer alguém e dar início a outra relação. Da mesma forma, é esperado que a vida de quem ficou para trás, como a dessa mulher que você ama hoje, siga em frente sem você. Nada mais justo. Sei também o quanto dói aceitar, mas não somos insubstituíveis.
Para encerrar, faltou abordar o aspecto mais importante. A vida nos garante o direito de errar. Se mesmo após tentar se adaptar, você ainda achar que “errou”, saiba que nada tem de ser para sempre. Você pode procurar um novo emprego e até voltar, mas vai se deparar com outra nova vida, diferente da que você deixou para trás. Seja como for, torço muito para que você supere esta fase e, se precisar de um amigo, ainda que virtual, conte comigo.
Um grande abraço,
Estranho