Caro Estranho,
A minha mãe faleceu durante a segunda onda de Covid. Dois anos e meio passaram e, agora, o meu pai arranjou uma nova namorada, que se tornou a prioridade dele. Sei que não devo me meter na vida de ambos, mas não me sinto bem com esta situação. Não acho correto. Os meus pais estavam juntos há 50 anos e esse novo namoro destruiu por completo a ideia que eu tinha do que era o amor.
Obrigada pelo espaço,
Bruna
Cara Bruna,
Antes de começar a responder, quero registrar o meu sincero pesar pela morte dessa mãe que você tanto amou e, sem dúvida, ainda ama. De fato, a pandemia foi um período trágico e de muita dor para o mundo todo, mas sobretudo para quem perdeu algum ente querido. Como aconteceu, vamos lembrar, não só com você, mas com esse pai e marido também, que perdeu a mulher com a qual compartilhou a vida durante meio século. Entretanto, ele ainda está vivo, e esteja certa de que ele sofre para elaborar todo esse luto, assim como você. Porém, na condição de um viúvo.
Dito isso, é sobre ele que temos de conversar, Bruna. E tentar lançar um olhar mais generoso. Em primeiro lugar, o fato de ele estar entre nós deve ser celebrado. Por mais banal que pareça eu dizer isso, às vezes, nos esquecemos de agradecer. Em seguida, ao tentar me colocar no lugar dele, penso que ele deva ter sentido muita falta de uma companhia após o acontecido. Então, ele encontrou uma nova pessoa e permitiu-se seguir em frente com ela. Você não acha que ele merece ter essa chance? É claro que o objetivo dele não foi e jamais será substituir a falecida mulher. Até porque 50 anos de amor não se acabam assim. E tenha certeza de que ele tem consciência disso.
O que aconteceu foi que a vida seguiu adiante, minha cara. Entendo quando você alega não se sentir bem com essa situação, mas saiba que essa mãe e mulher tão amada por vocês vai continuar sempre presente. Sim, o amor deles foi, de certo modo, infinito. Só acredito que a ideia que você tinha sobre esse sentimento era romantizada. E você mesma começou a repensá-la. Não tem a ver com posse ou ciúme, certo? Tal qual a vida, ele é dinâmico, não para e pode sempre mudar.
Um grande abraço,
Estranho