Caro Estranho,
Sei que falar em se matar é forte, mas não aguento mais viver com depressão, ansiedade e pensamento suicida. De vez em quando, estou bem, mas quando a crise ataca, nada me segura. Ontem mesmo, cortei o meu pulso e não senti dor. Também tomei bastante remédio, pois queria fugir da realidade. Não aguento mais. Não mereço ser feliz?
Tenho 34 anos e só queria descansar. Já tentei de tudo. Fui a psiquiatra, psicólogo, CAPS, pesquisei no Google, liguei para o CVV e por aí vai. Na minha família, ninguém sabe que tento me tratar há tanto tempo. Por isso, não me sinto acolhida. Também estou solteira e não consigo me relacionar com alguém. Me ajuda. Falta pouco para eu desistir de vez.
Obrigada,
Maura
Cara Maura,
“Dar um fim à própria vida é uma atitude desesperada que, quase sempre, tem a ver com algum transtorno psíquico grave que pode ser diagnosticado e tratado.” Foi isso que escrevi na segunda vez que tratei sobre esse assunto neste espaço. Releia a frase citada com bastante calma. Você consegue entender o porquê vou pedir que você volte a procurar um tratamento adequado? Enfim, dito isso, não gostaria que esta fosse só mais uma carta sobre o suicídio. Vamos tentar mudar o foco. Neste momento, quero que você olhe para si mesma e pense no que enxerga. Respire e preste atenção.
Quer saber por que peço isso? Porque, ao ler o que você me escreveu, pude vislumbrar aí dentro um grande deserto, mas não apenas isso. E sim, uma área vazia à espera de algo que a preencha, como uma imponente e robusta construção. E é você que tem de começá-la, minha cara. Escavar o solo, erguer cada viga, fazer o cimento, montar o telhado, enfim. Há muito trabalho pela frente. E tudo que você precisa agora é acreditar que é capaz de fazê-lo. Por enquanto, você não está pronta. No entanto, saiba que você consegue. É o que cada um aqui tem de fazer consigo mesmo.
“De vez em quando, estou bem”, você me contou no primeiro parágrafo. Será que você mesma percebeu ter escrito isso? Portanto, o que você acha de aproveitar cada momento em que se sentir assim, por menor que seja, e colocar um tijolo a mais naquela obra? Pode ser um único. Não importa. Com o tempo, ela há de ganhar forma e solidez. Acredite em mim, Maura. Tudo isso é uma enorme metáfora. O que quero que você entenda é que você é muito mais do que uma mulher acometida pela ansiedade, depressão e ideação suicida. Você tem uma potência absurda dentro de si. Pense nisso.
Por fim, minha cara, desejo que você tenha se sentido um pouco acolhida e saiba que merece, sim, ter uma vida cheia de alegria, mas também com alguma tristeza, assim como qualquer ser humano. E quando um pensamento invasivo e ruim vier à mente, antes de tomar qualquer atitude, pare tudo e imagine o poder que carrega consigo. O que acha? Existe uma vida que vale a pena ser vivida. Não tenho a menor dúvida. Contudo, para chegar até ela, é preciso encarar aquela obra. Por isso, por favor, volte a procurar uma ajuda especializada. Com ela, você vai erguer uma mansão nesse deserto.
Um grande abraço,
Estranho